Falar de educação não é tão simples como parece. Refletirmos sobre o porque educamos é mais complicado ainda. Principalmente em um período sócio-econômica difícil e psico-social conturbado, principalmente para os menos favorecidos e consequentemente para quem assume a responsabilidade de “educar” um “populacho” que está no porão, na obscura base da pirâmide da distribuição de renda do mundo, lá onde a miséria fica paralisada.
No entanto, a melhor maneira de tentarmos compreender ou mesmo explicar esse “porque” é simplesmente expondo nossas experiências, o que vivenciamos e sentimos ou estudamos e refletimos sobre o educar.
Educar não é fácil e o compromisso é de coragem, principalmente porque somos educadores de um povo minorizado e excluído, que faz parte de uma porcentagem que vive lutando as margens da sobrevivência. Sem o direito de gozar dos padrões básicos de nutrição, saúde, água e saneamento, moradia e principalmente educação, entre outras necessidades mínimas para o bem-estar e participação na sociedade.
É por isso que educamos? Porque o saber promete transformar o cidadão e dar a ele uma chance reflexão e de subir na escalada do desenvolvimento social e urbano?
Paulo Freire afirma que a educação tem como prioridades construir e libertar o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal e que educar é ensinar as pessoas a pensarem certo.
O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, confirma esta teoria dizendo que a prioridade da educação é promover capacidades intelectuais, artísticas, emotivas e físicas de cada discente e que a educação é o cultivo e adestramento de si, das características próprias de cada sujeito e de seu potencial criativo.
Seriam estas as respostas? Legal. Quer dizer então que somente através da aplicação desse instrumento de capacidades intelectuais podemos realmente libertar os oprimidos e transformar o mundo?
Primeiro, para que um indivíduo tenha liberdade ele precisa ser livre. Segundo, que para tentar transformar o mundo seria preciso uma educação de qualidade generalizada e uma formação cidadã dentro de um Estado laico e democrático, como se prega na Constituição. Ter uma formação cidadã incluente, sem sectarismo.
Em seu poema “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles diz que ser livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.
Sobre a transformação do mundo com base na educação, Florestan Fernandes diz que a grandeza de um homem se define por sua imaginação. E sem uma educação de primeira qualidade, a imaginação é pobre, e incapaz de dar ao homem instrumentos para transformar o mundo.
Mas, antes que qualquer educador ofereça liberdade de transformação é preciso ainda perguntar com qual tipo de realidade contemporânea (sócio-econômica e/ou psico-social) ele está lidando?
Antes de vestir a camisa e bradar que tem um compromisso ou finalidade estatutária pedagógica de ensino, seja ela na rede pública ou em Ongs”, o educador deve compreender que a realidade dos jovens de comunidades carentes é esta: semi-analfabetos, hipossuficientes, sem uma estrutura familiar afetiva, sem noção de direitos humanos, em situação de risco social e pessoal e excluídos em uma sociedade onde o acesso desigual aos bens culturais e de consumo é apenas uma face da opressão física e psíquica, entre outros.
É por isso que tentamos educar e como educadores é a essa realidade que temos que “prestar contas”.
Pastor Marcos Serafim