O Líder Cristão, Um Humilde Servo
Por meu querido professor
Bispo José Ildo Swartele de Mello
A cultura contemporânea despreza o frágil, o dependente e
gosta dos que se mostram fortes, competentes e autos suficientes. Isto favorece
os espertalhões que são capazes de esconder suas fraquezas, manipulando para exercerem
o controle e receberem maior reconhecimento. Mas não é assim no Reino de Deus,
onde “os primeiros tornam-se os últimos e os últimos, primeiros” (Mt 20.16).
Jesus escolheu os pequeninos (Mt 11.26), sim,
Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que
nada são, para reduzir a nada as que são (1 Co 1.28). Os primeiros no Reino são
os que seguem o exemplo do Mestre, que veio para servir e não para ser servido
(Mt 10.45), e que assumiu a humilde condição de servo ao lavar os pés dos
próprios discípulos (Jo 13.12).
Moisés, Isaías e Jeremias sentiram-se pequenos e inaptos
para o ministério a que foram chamados. E não podemos nos esquecer que Davi era
o último da casa de seu pai quando foi escolhido para ser o rei de Israel. João
Batista rejeitou a autopromoção, a histeria e o exibicionismo, pois não gritava
nas praças buscando chamar a atenção para si, pelo contrário, João Batista
disse que convinha que ele próprio diminuísse para que Cristo crescesse.
Renúncia e sofrimento fazem parte do chamado dos discípulos que devem carregar
a cruz à semelhança do Mestre (Lc 9.23).
O líder cristão não deve se comportar como dominador do
rebanho, mas deve guiar, inspirar e influenciar pelo exemplo (1 Pe5:2-3). Deve
lembrar que o próprio Rei Jesus entrou em Jerusalém de maneira humilde e mansa,
montado em um jumentinho (Mt 21.5). “Nem por força e nem por poder, mas pelo
meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Portanto, a entrega humilde
e amorosa de nossas vidas ao serviço do próximo deve caracterizar a vida de
todos os líderes cristãos.
O líder cristão é alguém que sabe lidar com as outras
pessoas não no nível "eu sou superior a você, pois sou seu líder",
mas no nível "sou seu servo, conte comigo". Tornando-se,assim, uma
pessoa acessível aos outros, pois ele segue o exemplo de Jesus, que cativava as
pessoas, que sempre queriam estar junto a si.
Um líder verdadeiramente cristão não tem o desejo de
liderar, mas é pressionado a aceitar uma posição de liderança pelo chamado
interno do Espírito Santo e pela pressão das circunstâncias externas. Pois
aquele que tem a ambição de liderar está desqualificado para ser líder. O
verdadeiro líder cristão não tem o mínimo desejo de mandar na herança de Deus,
mas é humilde, gentil, possui espírito sacrificial, pronto para liderar como
para ser liderado, quando se deparar com alguém mais capacitado que ele ou em
posição de comando. Pois, só quem sabe ser submisso, pode também liderar com
excelência.
Líderes seguros delegam poderes aos outros. O bom líder deve
encontrar líderes e desenvolvê-los, dando-lhes recursos, autoridade e
responsabilidade, e depois garantir-lhes liberdade para agir.Pois, a capacidade
de realizar está ligada a capacidade de delegar poder.Muitos líderes não
delegam poder por medo de perder o cargo para o outro,reflexo de sua baixa
auto-estima e da falta de confiança em Deus.
Henri J. M. Nouwen chama a atenção para a grande tentação
que acomete os líderes cristãos: o desejo de ser espetacular e causar impacto.
Ser relevante, notado, referido, popular, destacado, bombástico, “o melhor”.
Tem gente que busca a liderança como instrumento de autopromoção e que só
participa ativa e dedicadamente de algo que lhe traga reconhecimento e honra.
São do tipo de pessoas que "não colocam azeitona na empada de
ninguém". Tais pessoas estão muito longe dos bem-aventurados pobres de
espírito (Mt 5). Muito longe de Jesus, que jamais perseguiu a fama, pelo contrário,
vivia fugindo dela. Tais cristãos precisam dar ouvidos à exortação do Apóstolo
Paulo que disse: “Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por
humildade, considerando os outros superiores a si mesmo... Tende em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de
Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e,reconhecido
em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e
morte de cruz” (Fp 2:3-8). Grandes coisas acontecem na Igreja quando ninguém se
importa com quem vai levar a fama! Quando consideramos os outros superiores a
nós mesmos e nutrimos o espírito humilde de Cristo!
Levou um dia para tirar o povo do Egito, mas quarenta anos
para tirar o Egito do Povo. O capítulo nove de Lucas revela que os discípulos,
por vezes, manifestaram o espírito deste mundo: “pediram para descer fogo do
céu” (v.54). Jesus repreende perguntando “não sabeis de que espírito sois?” (v.
55). Os discípulos estavam agindo como agimos no mundo procurando destruir e
eliminar os que fazem oposição, pois queriam impedir que alguém continuasse a
pregar e a expulsar demônios somente por que não fazia parte do mesmo do grupo
deles (v. 49). E, os discípulos, imaturos, ainda disputaram por posições (v.
46).
Os discípulos também procuravam se esquivar do tema da cruz.
Jesus falava da cruz (Lc 9.44) e eles ignoravam o tema e logo mudavam de
assunto inquirindo e disputando sobre algo que lhes parecia bem mais
interessante, ou seja: “qual de nós será o maior no Teu Reino?” ( Lc 9.45 e
46). Os discípulos tinham uma concepção do Messias apenas em termos do Rei
vencedor, que restauraria o Reino a Israel. Criam que ele se manifestaria ao
mundo com grande poder e glória ainda naqueles dias e não podiam pressupor um
caminho de cruz, sofrimento, humilhação e rejeição nem sequer como estágio para
o estabelecimento do seu Reino. Sentiam-se prontos para reinar com Cristo, mas
tinham que aprender a ser menores como uma criança, pois o menor é que é de
fato o maior, e também deveriam aprender a servir como servos de todos.
(Lc 9.47-48). Em 1 Coríntios 1, vemos
algo semelhante acontecendo só que no sentido inverso, ou seja, havia disputa
entre os coríntios sobre quem seria o maior dos apóstolos, quem seria o melhor
dos cristãos e qual grupo era o mais cristão de todos. Paulo responde a esta
disputa que inclusive incluía o seu nome, dizendo que ele nunca quis um lugar
de destaque e que ele só quis saber de Cristo e este crucificado. Paulo critica
a sabedoria deste mundo que é míope para ver o poder e a sabedoria de Deus que
se revelam na “fraqueza” da cruz.
Fomos enviados por Cristo ao mundo como Cristo mesmo foi
enviado pelo Pai (Jo 17.11-18). “Para que os que vivem não vivam mais para si
mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5.15).A Vida é
o que de melhor alguém pode dar a seu semelhante. Pois, "quem não
sacrifica nada não ama. Quem sacrifica pouco ama pouco. Quem sacrifica tudo ama
totalmente" (Monier Vinard). Perguntaram a William Booth, fundador do Exército
de Salvação, qual era o segredo da grandeza de seu ministério, ele respondeu:
"Deus teve de mim tudo o que Ele quis". Infelizmente os evangélicos
seduzidos pelo consumismo têm feito o contrário: exigem de Deus tudo o que eles
querem.
Jesus passou pelo deserto antes do início de seu ministério
(Mc 1.12). Elias (1Rs 17.3) e Moisés
(Êxodo) também. Paulo foi para o deserto (Gl 1.17). Temos muito a
aprender sobre deserto na vida dos servos de Deus. Cruz e deserto estão em
sintonia, são sinônimos. O estilo de liderança de Jesus foi marcado pela cruz,
pelo deserto, pelo burrinho, pelo balde e a toalha (Jo 13.12). Sendo Senhor,
foi humilde e assumiu a condição de servo. Não foi dominador, mas procurou
cativar pelo amor, pela graça e pelo exemplo. Não constrangeu os seguidores
pela força, deixando-os sempre livres para escolher e até mesmo desistir (Jo
6.67). Seu estilo de liderança nada tema ver com o estilo de governar deste
mundo, sendo, de fato, um estilo às avessas do padrão comum de autoridade
mundana que se impõe pela força. Tal estilo deve caracterizar a vida de todos
os verdadeiros líderes cristãos.
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