Espiritualidade Bíblica e Espírito
Santo
Por Pr. Marcos Serafim
A Bíblia nos mostra uma espiritualidade manifesta em Deus desde
a criação, uma espiritualidade apresentada dia-a-dia à humanidade.
Ou seja, desde a criação e no decorrer da história da humanidade
nas Escrituras Sagradas, espiritualidade tem a ver com o relacionamento de Deus
para com os homens e dos homens para com Deus, onde os pensamentos e o modo de
agir são transformados, não apenas por fé ou regras, mas pela adoração,
retidão, entrega e dedicação a Deus.
Toda ação espiritual de Deus apresentada na Bíblia transforma a
humanidade caída e desregrada em uma humanidade resgatada, ordenada e
restabelecida na comunhão com Ele, nos múltiplos contextos da vida humana, que
envolve trabalho, relações pessoais, igreja, etc.
Neste contexto, podemos resumir que espiritualidade bíblica é
uma forma de o ser humano compartilhar sua vida com Deus, de permitir que Deus
se relacione com ele, de permitir uma vida em comunhão, de renunciar a tudo
para se tornar discípulo, templo do Espírito Santo, pessoa dedicada à oração e
adoração.
Infelizmente ainda existem incertezas nos dias de hoje sobre a essência da
espiritualidade, ou de receber o Espírito Santo, ou ainda incertezas quanto a
se tornar um cristão cheio do Espírito Santo.
Aparentemente algumas pessoas ainda duvidam do fato de que viver uma vida
de espiritualidade cristã requer a certeza de se ter recebido o Espírito Santo.
O que implica o não viver apenas uma vida cristã convicta e de servidão apenas
no fazer as “obras da lei”, sem o hábito da adoração.
Ser cheio do Espírito Santo é ser um adorador convicto da salvação, é ser
dedicado a oração, ser separado para Deus e fazer parte da assembléia dos
santos, onde corpos se tornaram lugar de habitação do Espírito. “Se alguém não
tem o Espírito de Deus”, não é um cristão, de acordo com Romanos 8.9.
No campo da espiritualidade o indivíduo se torna a habitação do Espírito
de Deus e assim [dessa forma] toda a estrutura da igreja é ajustada para crescer
e se tornar um santuário santo no
Senhor.
No contexto da espiritualidade a habitação do Espírito é o elemento
indispensável para a santidade, tanto para o cristão como para a igreja.
Neste caso, segundo Michael Green (2008) existem três aspectos da
atividade do Espírito no Antigo Testamento que nos afetam particularmente nos
dias de hoje, uma vez que antecipam Jesus e a igreja.
O primeiro aspecto é o seu serviço, em que o Espírito foi prometido
especialmente ao Servo do Senhor nos quatro grandes cânticos de Isaias,
apresentado em Isaias 42.1, ou uma passagem semelhante fora dos Cânticos dos
Servos, registrado em Isaias 61.1. Neste primeiro aspecto Green (2008) afirma
que Jesus reivindicou para si o cumprimento das duas passagens em seu
ministério. Ele, o Supremo Servo do Senhor, foi de forma única revestido do
Espírito de Deus.
O segundo aspecto é a Sua majestade, em que um rei de Israel poderia
esperar possuir o Espírito de Deus (I Samuel 10.1,6; 16.13). Dessa forma, havia
a esperança em Israel de que no futuro o Grande Rei viria e seria revestido do
Espírito de Deus de um modo poderoso, já que os reis de Israel haviam muitas
vezes decepcionado.
O terceiro aspecto se refere ao acesso do Espírito de Deus ao povo comum.
Nos dias do Antigo Testamento uma pessoa precisava ser muito especial para que
o Espírito Santo fosse dado a ela. Talvez a um profeta, um rei ou a um sábio.
Mas o Espírito não era para o homem comum e as desvantagens na experiência
humana, quando acontecia a manifestação do Espírito de Deus, era que o Espírito
era “sub-pessoal”, ou seja, era o poder impetuoso, incontrolável, indomado.
Outro fator era que o Espírito não era permanente, mas restrito e podia ser
dado e retirado ao mesmo tempo. Era um presente, um dom para alguns dentre o
povo de Deus, não para todos. A esperança era que no grande dia da libertação
de Deus para seu povo, o Espírito seria universalizado.
Essa universalização é declarada na profecia de Joel (2.28) e ocorre
admiravelmente no Dia de Pentecoste, e aqueles que estavam presentes tinham
plena consciência disso (Atos 2.17-18); ocorre a partir daí uma nova aliança,
onde uma nova experiência do Espírito de Deus em nós iria aquecer nossos
corações para impelir-nos a seguir nos caminhos de Deus, nos capacitando em
nossa vontade para assim fazermos. O que no devido tempo se tornou realidade.
No Pentecoste, quando o Espírito desceu sobre a Igreja, ficou claro que
as restrições e desvantagens da velha aliança haviam passado e o dom do
Espírito habitou nos corações e nas vidas dos crentes até os dias de hoje. O
Espírito Santo é aquela parte do futuro de Deus que já está presente. Ele é o
primeiro fascículo de tudo que Deus tem reservado a nós (Efésios 1.13-14). É o
selo e a garantia de nossa herança até que tomemos posse de tudo, consumados na
volta de Cristo.
Ser batizado com o Espírito Santo significa um rito de iniciação para
todos os cristãos e não apenas alguma espiritualidade poderosa com a qual
alguns são iniciados.
Receber o Espírito Santo e ser cheio por Ele em nossa vida cotidiana é
uma experiência única e não há nenhum outro modo pelo qual possamos ter uma
vida perfeita, sem pecado; mas sermos cheio deveria ser nossa condição normal
como cristãos.
A espiritualidade cristã requer uma vida de santidade e oração constante para
que o Espírito Santo possa nos encher cada vez mais. A condição é vivermos sem
pecados.
Santidade é uma busca constante de renovação e dedicação a pureza de Deus,
de forma plena, total, radical, sem restrições, em temor e reverência diária.
Esse texto tem como fonte de
pesquisa e referência
STEVENS, R. Paul & GREEN, Michael. Espiritualidade Bíblica: a Bíblia
como fonte da verdadeira espiritualidade para o seu dia a dia. Tradução Marília
Peçanha – Brasília, DF; Palavra, 2008.
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